QUERO FALAR DO BOAVENTURA OU DO
PINTURA como a
meninada o chamava.
Era um tipo físico exótico. Rosto magro enriquecido por um farto
bigode de pontas viradas e espessas que lhe caia aos peitos. Era um pouco
calvo, mas seu cabelo atrás era farto e abundante além de comprido.
Trazia sempre ao pescoço um Rosário, cujos mistérios eram
entremeados de medalhas de nossa senhora. Parecia um daqueles Parias da Índia,
devido a sua camisa ser de “manapulão” bem frouxa e de mangas compridas. Era
sorridente, porém seu sorriso estampava mais tristeza que alegrias. Seus olhos
eram tristonhos e lânguidos. Falava a sós. Não sei com quem dialogava, talvez
com a esposa que ele mesmo anos atrás matara a facadas, o que lhe rendeu pesada
pena.
Dizia-se que passava o dia andando pelas encostas da Serra onde
se alimentava de frutos silvestres e animais, até Lagartixa. A noite ia dormir
no cemitério, talvez, quem saiba, ao lado do túmulo da amada que matara. Por
ter cometido esse tresloucado gesto, passou a auto-impor-se toda essa vida de
sofrimento. Hoje tenho certeza, seu pecado foi perdoado, ainda em vida. Seu
purgatório deu-se aqui mesmo na terra, e deve-o estar em bom lugar, pois Deus é
misericordioso.
Pobre Boaventura, ainda conservo-o mentalmente a tua imagem,
que, em menino despertava-me medo, hoje sinto saudade de ti, daí ter lembrado
de ti, hoje tu ainda vives, pelo menos para mim.
Que ironia do destino uma pessoa ter o nome de Boaventura e sua
vida foi uma má VENTURA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário