João Alberto Lins de Barros nasceu em Recife, em 1897. Militar,
ingressou na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, em 1909. Participou
da preparação do primeiro levante tenentista, ocorrido no Rio de Janeiro em
1922, embora não tenha tomado parte na insurreição propriamente dita. Mesmo
assim foi preso por cinco meses. Após ser libertado, transferiu-se para o
município de Alegrete (RS), onde retomou suas atividades conspirativas.
Participou dos levantes deflagrados no interior do Rio Grande do Sul, a partir
de outubro de 1924. Derrotados por forças fiéis aos governos, federal e
estadual, os rebeldes gaúchos se dirigiram ao estado do Paraná, onde se
juntaram aos remanescentes do levante tenentista ocorrido na capital paulista
em julho daquele ano. Da unificação das forças rebeldes paulistas e gaúchas
nasceu a Coluna Prestes, exército guerrilheiro comandado por Luís Carlos
Prestes e Miguel Costa, que percorreu o interior do Brasil
durante cerca de dois anos em campanha contra o governo de Artur Bernardes.
João Alberto desempenhou papel de relevo na Coluna, tendo sido o comandante de
um dos quatro destacamentos em que se dividia o exército rebelde. Após o fim da
campanha da Coluna, em fevereiro de 1927, enquanto a maioria de seus membros
exilou-se na Bolívia e na Argentina, João Alberto regressou ao Brasil, passando
a viver na clandestinidade. Viveu então em Pernambuco e no Paraná. Mantendo-se
como ativo conspirador, estabeleceu contato com os políticos da Aliança
Liberal, coligação que reunia os grupos dirigentes dos estados do Rio Grande do
Sul, Minas Gerais e Paraíba em torno da candidatura oposicionista de Getúlio
Vargas à presidência da República. Com a derrota de Vargas no pleito realizado
em março de 1930, passou a dedicar-se à preparação do movimento revolucionário
que derrubou o presidente Washington Luís em outubro daquele ano, impedindo a
posse do
candidato eleito, o paulista Júlio Prestes. Após a instalação do novo regime,
foi nomeado por Vargas delegado militar da revolução e, posteriormente, interventor
federal no estado de São Paulo, medida que abriu grave crise entre o novo
governo e os grupos dirigentes daquele estado. Sua gestão à frente do governo
paulista foi marcada por medidas polêmicas, como a autorização para o
funcionamento do Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do
Brasil (PCB), e a ameaça de confisco das fábricas que não acatassem as medidas
sociais decretadas. Ao mesmo tempo, buscava aproximar-se dos cafeicultores.
Junto com Miguel Costa, que passou a comandar a Força Pública estadual,
organizou a Legião Revolucionária, partido político que buscava promover a
mobilização de massas em apoio ao novo regime, entrando em confronto com as
agremiações políticas tradicionais do estado. Por conta disso, seu governo, que
se estendeu até julho de
1931, foi marcado por fortes tensões, agravadas pelo rompimento do Partido
Democrático (PD) com o governo, ocorrida no mês de março. Foi membro do Clube 3
de Outubro, agremiação que visava oferecer maior consistência à atuação
política dos "tenentes" revolucionários, e também do Partido
Autonomista do Distrito Federal, liderado por Pedro Ernesto. Em abril de 1932,
assumiu a chefia de polícia do Distrito Federal, cargo que ocupou até o ano
seguinte. Em 1934, elegeu-se deputado federal constituinte por Pernambuco, na
legenda do Partido Social Democrático daquele estado. Por essa mesma agremiação
obteve um mandato de deputado estadual constituinte pernambucano, em abril de
1935. Nesse ano, recusou convite feito por Luís Carlos Prestes para ingressar
na Aliança Nacional Libertadora (ANL), frente política de esquerda que se
estruturou a partir de um programa de cunho antifascista e antiimperialista.
Ainda em 1935, iniciou um período
dedicado a missões diplomáticas, que se estendeu até o início da década
seguinte. Entre 1941 e 1942, exerceu o cargo de embaixador do Brasil no Canadá.
Em setembro de 1942, no contexto da participação brasileira na Segunda Guerra
Mundial, foi nomeado presidente da recém-criada Coordenação de Mobilização
Econômica, que possuía amplos poderes para intervir-nos mais diversos assuntos
relativos a controle de preços, estabelecimento de metas de produção,
abastecimento e planejamento do sistema de transportes. A partir do ano
seguinte, passou a acumular a presidência da também recém-criada Fundação
Brasil Central, cujo objetivo era promover o povoamento das regiões Norte e
Centro-Oeste. Em março de 1945, foi designado novamente para a chefia de
polícia do Distrito Federal. Estimulado pelas mudanças então ocorridas no cenário
internacional, passou a defender a redemocratização do país. Nesse sentido,
opôs-se, como chefe de
polícia, às manifestações do movimento queremista que reivindicavam a
permanência de Vargas no poder. Sua substituição nesse cargo por Benjamin
Vargas, irmão do presidente, foi o estopim para a deflagração do golpe
promovido pela cúpula das Forças Armadas em outubro de 1945, que resultou no
afastamento de Vargas da presidência. Nas eleições presidenciais realizadas a
seguir, deu seu apoio à candidatura vitoriosa do general Eurico Gaspar Dutra,
promovida por setores que haviam apoiado o Estado Novo. Em 1947, elegeu-se
vereador no Distrito Federal, na legenda do Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB). No início da década de 50, participou do segundo governo Vargas,
ocupando cargos técnicos. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1955.··.
Inaugurado em 10 de outubro de 1894, o prédio da estação de Ipu é um dos mais
belos em toda a malha ferroviária do Brasil segundo os especialistas no
assunto.
Não quero, aqui, me deter sobre a importância da estrada de ferro para o Ipu no
que concerne aos aspectos econômico, social, urbano, arquitetônico e cultural,
pois dessa parte se encarregarão os historiadores da terra, cuja safra, hoje, é
muito promissora. E, também, para que, ninguém, com razão, me venham a dizer:
Ne sutor supra crepitam, ou seja, “Sapateiro, não subas além da sandália”, como
disse o pintor Apeles a um sapateiro que criticara uma parte de uma pintura sua
que não a sandália.
Quero apenas me restringir ao lado nostálgico deste belo monumento histórico.
Com efeito, a Estação é um dos ícones de Ipu, ao lado da Bica, da Igrejinha, do
Jardim Iracema e do prédio da Prefeitura, dentre outros. E foi parte integrante
da minha infância e da minha juventude, pois, como disse a nossa escritora
maior Rachel de Queiroz, “Menino criado em beira de linha fica com o trem no
sangue”.
Era a estação o ponto de encontro diário de grande parte da população da
cidade. Ao toque da sineta, anunciando a chegada próxima do trem, as pessoas se
dirigiam em correria para lá.
A estação presenciou, sem dúvida, grandes momentos e episódios marcantes. Eram
partidas e chegadas de entes queridos, encontros e desencontros, alegrias e
tristezas, boas-vindas e despedidas, sorrisos e lágrimas, beijos e tapas, juras
de amor e chiliques de ciúme, início e término de flertes e namoros. Enfim, as
alegrias e as vicissitudes que povoam os fundos arcanos da misteriosa e
insondável alma humana.
E não é que, por pouco, íamos perdendo esse ícone quando, e 2001, fora
adquirido por um comerciante de fora, que vencera licitação da Rffsa, para ser
transformado numa revenda de motos.
Em face de uma forte campanha desenvolvida pela Associação dos Filhos e Amigos
de Ipu - Afai, que mobilizou toda a população com vistas à integração da
Estação ao patrimônio da cidade, a Prefeitura de Ipu se viu obrigada a
considerar aquele prédio como de utilidade pública, adquirindo-o, em tempo
hábil, do proprietário.
Para registro nos Anais da História, cabe ressaltar que a Estação de Ipu serviu
de Quartel General da Coluna Prestes que, em 13 de janeiro de 1926, aos
primeiros raios da aurora, chegou à cidade sob o comando do Coronel João
Alberto. Havia na Estação uma composição ferroviária e o maquinista da
locomotiva 17 foi obrigado, na tarde daquele dia, a deslocá-la a uma distância
de 5 km, onde a mesma foi abandonada.
A Estação de Ipu já foi tombada
pelo Iphan e o projeto de sua
recuperação foi feito, conjuntamente, pelo Iphan-der-Secult, e nela será
instalada uma biblioteca pública. Para a recuperação da Estação foram decisivos
os apoios de nossos legítimos representantes na Assembléia Legislativa do
Ceará, os deputados Sávio Pontes e Gomes Farias, e a Sra. Maria do Socorro
Pereira Torres, prefeita municipal de Ipu. O povo, com certeza, lhes será
grato, e toda vez que o trem apitar nos Pereiros e nas Pedrinhas ecoará, em
conjunto, o apito da locomotiva e as palavras de louvor e gratidão aos seus
grandes benfeitores.
Os trabalhos de recuperação estão prestes a começar e a nossa Estação vai ser
devolvida à população em todo o seu esplendor do passado. Permito-me sugerir às
autoridades do Estado e do Município que, quando da reinauguração, seja feita
uma placa de bronze com os nomes de todos os agentes da Estação que moraram no
Ipu. Foram eles figuras importantes que muito contribuíram para o
desenvolvimento de nosso torrão natal. Lembro-me, ainda, de alguns deles, como
os senhores Craveiro Carlito e Isaías. O último agente ainda mora em Ipu. Está
aposentado, e é o senhor José Maria Pereira da Silva.
Deveriam ser convidados para esse inolvidável evento os agentes ainda vivos e
os familiares de todos os agentes que não estão mais entre nós a fim de
receberem as justas homenagens do povo ipuense pelo muito que fizeram em prol
do nosso desenvolvimento.
Os arquivos pessoais constituem valiosas fontes de pesquisa, seja pela especificidade dos tipos documentais que os caracterizam, seja pela possibilidade que oferecem de complementar informações constantes em arquivos de natureza pública. O crescimento das pesquisas nas áreas de história da vida privada e história do cotidiano, bem como o interesse crescente pelas análises de tipo biográfico e pelas edições de correspondência escolhida, têm aumentado a procura por este tipo de fonte, chamando atenção para a importância de sua preservação, organização e abertura à consulta pública. Em virtude de conterem informações fundamentais para a recuperação da memória ou para o desenvolvimento da pesquisa histórica, científica ou tecnológica do país, alguns arquivos pessoais podem ser classificados como "de interesse público e social", por meio de dispositivo legal. Nesses casos, a lei determina que sejam preservados e colocados à disposição dos pesquisadores. Por se tratarem de documentos de natureza privada, os arquivos pessoais reúnem muitas vezes informações cujo acesso pode comprometer a intimidade do seu titular ou de terceiros. O Brasil hoje já dispõe de um corpo de leis regulamentando várias questões na área de arquivos, entre elas, o acesso a informações de natureza privada. Além da lei 8.159, de 1991, conhecida como Lei de Arquivos, que possui um capítulo dedicado aos arquivos privados, o decreto 2.942, de 1999, e a Resolução nº 12, do Conselho Nacional de Arquivos - CONARQ estão voltados para o tema. |
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